Brasília -  Acusado de comandar a máfia dos caça-níqueis em Goiás e de ligações com políticos de vários escalões, entre eles o senador Demóstenes Torres (sem partido), o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, não pôde acompanhar ontem o enterro da mãe, Maria José de Almeida Ramos, de 82 anos, no Cemitério São Miguel, em Anápolis, no interior de Goiás. Segundo seus advogados, por estar preso numa penitenciária de segurança máxima, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, Cachoeira levaria alguns dias até obter a liberação judicial. Ela sofria de problemas pulmonares e morreu de falências múltiplas nos órgãos.

Cachoeira é suspeito de vários crimes, entre os quais corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e contrabando. Ele foi preso no dia 29 de fevereiro, durante a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que desarticulou organização que explorava máquinas de caça-níqueis.

Interceptações telefônicas feitas com autorização judicial indicam que o senador Demóstenes Torres atuava no Congresso em favor de Cachoeira. Outras gravações revelaram o envolvimento de servidores públicos do Incra e de funcionários dos governos estaduais de Goiás e do Distrito Federal. Além de Demóstenes, outros deputados federais serão investigados por ligações com o bicheiro, como Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO) e Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO). Já Stepan Nercessian (PPS-RJ) confessou ter recebido R$ 175 mil, como empréstimo, de Cachoeira no ano passado.

Na semana passada, o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou o pedido de habeas corpus feito pelo empresário. A defesa de Cachoeira afirmou que vai recorrer ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região para tentar sua transferência para um presídio mais perto de Goiás.

O líder do Bloco de Apoio ao Governo no Senado, senador Walter Pinheiro (PT-BA), afirmou que começa hoje a indicar nomes para compor a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que vai investigar até onde vão os tentáculos do bicheiro, envolvendo políticos, autoridades e empresários. Fazem parte 25 senadores do PT, PDT, PSB, PC do B e PRB. O grupo se reúne ao meio-dia para definir os indicados.

Delta acusada de dar propina a políticos

O deputado federal Bruno Araújo, líder do PSDB na Câmara, disse que vai convocar o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta, assim que a CPI do caso Cachoeira for instalada. Os tucanos também querem a quebra dos sigilos fiscal e telefônico do empresário.

Em conversa gravada em 2009, e reveladas no blog do jornalista Mino Pedrosa, Cavendish é flagrado dizendo que é possível ganhar contratos com o poder público subornando políticos. Para o líder do PSDB, o caso é “gravíssimo”. A construtora está no centro das investigações da PF envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira. A Delta informou que o áudio foi editado e não representa o que a empresa pensa.