quarta-feira, 18 de julho de 2012


Homicídios de jovens crescem 346%


São Paulo (AE) - De um lado, avanços em pesquisas e mais investimentos em saúde nos últimos 30 anos diminuíram os riscos de crianças e adolescentes morrerem de doenças e causas naturais no País. De outro, o Brasil ficou mais violento para essa faixa da população no mesmo período. Entre 1980 e 2010, o total de mortes de pessoas entre 0 e 19 anos por doenças e causas naturais passou de 387 casos em cada 100 mil pessoas para 88,5 por 100 mil, queda de 77%. Por outro lado, cresceu o total de crianças e de adolescentes que morrem pelas chamadas causas externas, que incluem homicídios, suicídios, acidentes de trânsito e de outros tipos. As vítimas de causas externas, que somavam 27,9 casos por 100 mil habitantes em 1980, alcançaram 31,9 casos por 100 mil em 2010, aumento de 14,3%.
Frankie MarconeNo RN, o índice de homicídios vem crescendo puxado por municípios do interior e da região metropolitanaNo RN, o índice de homicídios vem crescendo puxado por municípios do interior e da região metropolitana

Em 30 anos, 55 crianças e adolescentes morreram diariamente por homicídios, suicídios e acidentes, total suficiente para colocar o Brasil nos primeiros lugares no ranking de países mais violentos para crianças e jovens no mundo. É o quarto onde mais se mata e o 12° onde mais se morre por acidentes de trânsito.

A piora no quadro de mortes por causas externas foi puxada pelos homicídios, que cresceram 346,4% em 30 anos. Em 1980, morreram assassinadas 3,1 crianças e adolescentes em cada 100 mil, total que alcançou 13,8 casos por 100 mil em 2010. Também aumentou o total de suicídios (38%) e de acidentes de trânsito (7%).

Os dados são do Mapa da Violência 2012 - Crianças e Adolescentes do Brasil, estudo feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos e pela Flacso Brasil. "Esses dados ajudam a revelar certos aspectos do Brasil que às vezes passam despercebidos. O fato de no Brasil se matar 130 vezes mais crianças e adolescentes do que no Egito revela que algo está errado", diz o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, que coordenou a pesquisa.

Em 2010, São Paulo foi a capital brasileira com menor número de assassinatos de jovens e crianças, com 5,3 homicídios por 100 mil habitantes. No trânsito, entre as 27 Unidades da Federação, o Estado paulista ficou em 22º lugar, entre os menos violentos para essa faixa etária. No caso dos acidentes de trânsito, o estudo revelou peculiaridades interessantes. Na última década, diminuiu o total de mortes entre crianças de 2 a 13 anos. Nos extremos, porém, tanto entre bebês de 0 a 1 ano quanto entre adolescentes de 14 a 19, aumentou o número de vítimas.

Para os jovens, esse aumento ocorreu principalmente por causa do crescimento da venda e uso das motocicletas, que representaram 39% das mortes em acidentes de trânsito, à frente do automóvel (19,3%) e pedestres (12%). 

Grande Natal puxa índice no RN

O Mapa da Violência 2012 aponta que o Rio Grande do Norte fechou o ano de 2010 com uma taxa de 22,9 homicídios em 100 mil habitantes, quase o dobro do que registrava em 2004, quando ostentava a segunda menor taxa do país. Os dados retratam a população de forma geral e não apenas crianças e adolescentes.

"Durante longos anos o estado manteve-se embaixo da linha considerada crítica dos 10 homicídios em 100 mil habitantes. Em 2001, ultrapassa esse patamar, e a partir desse ponto ingressa numa crescente espiral de violência", diz o relatório. 

O texto acrescenta que nessa evolução estadual, dá para identificar duas etapas.

INTERIOR

O primeiro período compreende os anos de 1980 a 2004. Nesse intervalo, as taxas do estado, que já eram mais baixas que as nacionais, cresceram de forma mais lenta, ficando mais distantes ainda da média do país. Se o índice nacional cresceu 131,1%, o estadual avançou 31,4%, e isto impulsionado exclusivamente pelos municípios do interior, cujos índices no final do período praticamente se equiparam aos da região metropolitana (RM) de Natal. 

No segundo período, de 2004 a 2010*, as taxas do estado cresceram com um ritmo muito acelerado, encostando praticamente na média nacional no final do período. "É a Região Metropolitana a que vai incentivar o elevado ritmo de crescimento do estado, apesar do interior apresentar também índices muito elevados", destaca ainda o relatório. 

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