quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Secretário critica ações de médicos




Alex Costa - repórter

A visita de representantes do Conselho Regional de Medicina (Cremern) ao Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) na manhã de ontem foi mal vista pelo titular da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), Isaú Gerino. Segundo ele, todo o caos registrado ontem no interior do maior hospital do Estado não passa de "uma montagem" e  o "exagero" seria a melhor palavra para definir a atuação do Cremern nas instalações. "Chamo aquilo de terrorismo. Aquela situação denigre a imagem dos médicos que estão por trás e leva a população a acreditar que realmente a situação está incontrolável", alegou Gerino, por telefone à reportagem da TRIBUNA DO NORTE.

Por volta das 10 horas da manhã de ontem, o presidente do Cremern, Jeancarlo Cavalcante, chegou ao Walfredo Gurgel em companhia do presidente do  Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Marcos Dionísio Caldas, para iniciar a visita que visava constatar a situação "caótica" em que se encontraria a unidade hospitalar de regência estadual. Uma comitiva de 10 pessoas, sem contar com toda a imprensa presente na apuração do acontecimento, caminhou pelo interior do hospital - que estava com 92 pacientes internados pelos corredores - e entrou nos centros cirúrgicos, UTI's e no setor de Politrauma, onde vários doentes se encontravam em estado grave de internamento.

Pelos corredores, era possível ver pacientes em macas baixas, ao nível do chão, ou mesmo em colchões improvisados pela falta de macas. Alguns usavam tampas de lixeiras para acomodar os travesseiros na cabeça. "Aqui tudo é no improviso. Não temos condições de permanecer assim", disse a enfermeira Ruiara Pinheiro. Com o setor de emergência clínica fechado, o setor de Politrauma abriga pacientes que fazem uso dos monitores de registro de batimentos cardíacos de forma compartilhada, o que, segundo enfermeiros, não adianta em nada para compreender a situação dos pacientes. Nesse mesmo setor, um homem agonizava de tanta dor pela falta de medicamentos apropriados para o alívio.

A diretora da unidade hospitalar, Fátima Pinheiro, informou que da última sexta-feira até a segunda-feira, dia 10 de agosto, 26 óbitos haviam sido registrados no hospital, mas não confirmava que essas mortes tinham relação com a precariedade no atendimento. "Estamos atendendo o melhor que podemos. Já se passaram dois meses desde a implantação do Plano de Enfrentamento à Urgência e Emergência no Estado. Com mais um mês, acredito que tenhamos resultados. É nessa confiança que eu permaneço na direção do hospital", informou, de forma positiva, Fátima Pinheiro.

O acúmulo de pacientes que aguardavam cirurgias ortopédicas aumentou desde a última segunda-feira, quando haviam 87 pessoas aguardando a cirurgia. Até a manhã de ontem, 92 pessoas aguardavam pela operação, entre esse número algumas crianças que estavam no setor pediátrico. "Sem remédios para dor e com a demora para atender, principalmente às crianças, a conseqüência serão as sequelas para toda a vida", afirmou Jeancarlo Cavalcante.

FAMILIARES

A falta de materiais para limpeza dos pacientes, lençóis e medicamentos para a dor, bem como a superlotação das cinco alas de UTI do hospital foi motivo de indignação e revolta de familiares dos pacientes internados e de funcionários do hospital. Durante a visita, cerca de 200 pessoas protestavam à frente da entrada de emergências contra o abandono da instituição por parte do Governo do Estado. Segundo a diretora do hospital, a situação tende a se agravar com a paralisação da Cooperativa dos Médicos, que aguarda o pagamento das dívidas do município. 

Jeancarlo Cavalcante, do Cremern,  informou que uma reunião entre participantes do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Estadual de Saúde da OAB e do Conselho Estadual do Idoso ocorrerá na próxima segunda-feira (17) para discutir que medidas podem ser aplicadas para procurar resolver todo o problema. "Não podemos interditar nenhuma unidade, tendo em vista que seria homicídio culposo se nós o fizéssemos. Vamos discutir ações que possam mudar essa realidade, e rápido", colocou.

Para Marcos Dionísio Medeiros Caldas, presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, a situação é caótica e se comprova com a resposta dos parentes dos usuários. "Essa revolta dos parentes, e até mesmo dos enfermeiros e técnicos de enfermagem à porta do hospital só comprova que a situação é mesmo preocupante", considerou. 

Anestesiologistas 

A Cooperativa dos Anestesiologistas (Coopaneste) se reiuniu ontem com o Ministério Público do Tribunal de Contas solicitando a adoção de alguma medida para promover o pagamento dos honorários dos anestesiologistas, que estão há três meses sem receber.

O valor da dívida ultrapassa os R$2 milhões, valor referente aos meses de maio, junho e julho. De acordo com Frederich Marques, os 90 dias de atraso significam uma quebra de contrato. Ontem, uma reunião ocorreu entre os cooperados, que ameaçavam parar os atendimentos a partir de hoje.

Havendo paralisação, apenas as cirurgias de emergência serão realizadas por respeito à população. "As eletivas terão que aguardar até a resolução da dívida", informou.

Samu Natal não tem médicos a partir de amanhã

A coordenação do Samu Natal enviou, na tarde de ontem, um comunicado à imprensa informando que o serviço prestado pelo órgão  está comprometido devido à saída dos profissionais terceirizados da Coopmed. A escala de médicos está comprometida e em alguns dias o serviço não será oferecido à população.

Segundo a nota, o problema irá se agravar a partir da tarde da próxima sexta-feira, dia 16, quando não haverá médicos de plantão. Neste dia, não haverá atendimento. O problema vai se repetir durante todo o domingo, dia 23, terça-feira, dia 25, à noite,  sexta-feira, dia 28, à tarde e domingo, dia 30, à noite. O atendimento será suspenso pela falta de médicos na regulação médica.

Além disso, o Samu divulgou calendário onde informa quais dias a UTI móvel não estará disponível: dias 16 (noite); 17 (todos os turnos); 18 (noite); 21 (tarde); 26 (manhã e noite); 27 (manhã); 29 (noite) e 30 (dia) apenas dois médicos estarão de plantão que terão como função o exercício da regulação médica. Já nos dias 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, duas ambulâncias com UTI móvel estarão funcionando, porém, de acordo com o turno, o atendimento será feito com apenas um veículo.

Hoje, a coordenação do Samu Natal vai oficializar o pedido para que o Samu Metropolitano faça o acolhimento de todos os chamados ao 192. A TRIBUNA DO NORTE tentou falar com o coordenador do Samu Metropolitano, Luiz Roberto Fonseca, porém, o telefone só chamou.

Nota Sesap

A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) esclarece que a atual superlotação do Hospital Walfredo Gurgel se deve à paralisação da Cooperativa dos Médicos em função do não pagamento por parte da Prefeitura Municipal de Natal, à qual cabe 40% do total devido. A Sesap encontra-se em dia com sua parte no pagamento, que corresponde a 60% do valor. A paralisação da execução dos serviços pela Cooperativa na rede municipal de saúde resultou no aumento da demanda no Hospital Walfredo Gurgel, a qual sempre tem sido superior à sua capacidade de atendimento.

No que se refere ao abastecimento de medicamentos daquela unidade hospitalar, o Secretário de Estado da Saúde Pública, Isaú Gerino, confirmou que esta já se encontra com 60% dos insumos necessários. O secretário informou que vem buscando solucionar essa questão, que foi prejudicada devido às greves dos caminhoneiros, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Polícia Federal.

O Secretário informou, ainda, que a Sesap está buscando viabilizar os leitos de retaguarda para o Hospital Walfredo Gurgel, em unidades como o Hospital João Machado e o Hospital da Polícia Militar. Além disso, afirmou que o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) virá, em breve, ao Rio Grande do Norte, para dar início a um mutirão para realizar cirurgias ortopédicas, com o objetivo de zerar a fila de espera nessa especialidade. 

Bate-papo

Isaú Gerino, secretário estadual de Saúde Pública

O mostrado "é exagero e terrorismo"

O que está acontecendo no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel para que o atendimento siga de forma tão deficitária?

Se você entrar num dia normal no hospital, você vai se deparar com uma realidade totalmente diferente. É certo que a superlotação prejudica os atendimentos e que muitas pessoas precisam se acomodar de forma improvisada, tendo em vista a interdição do setor de Emergência Clínica e a paralisação dos atendimentos na rede municipal de Saúde, por conta da falta de repasses por parte do município à Cooperativa dos Médicos. Porém, todo o alarde que foi feito pelas emissoras de televisão, que mostraram tampas de lixeiras sendo usadas como travesseiros pelos pacientes e a falta de insumos é exagero e terrorismo visual.

O senhor considera então que tenha sido uma montagem?

Sim. São situações inadmissíveis, que não acontecem no dia a dia do hospital.

E com relação à falta de insumos? Não confere?

Não. Os insumos podem estar chegando de forma deficitária, tendo em vista a burocracia das licitações e a demora na chegada desses medicamentos e materiais hospitalares por vias rodoviárias. Uma greve da Polícia Rodoviária Federal atrasa o recebimento dos insumos na Unicat, que está com 54% do seu estoque completo. Mas nunca falta totalmente no hospital.

Que avaliação o senhor faz dos dois meses que em está à frente da pasta estadual de Saúde?

É muita coisa para resolver em tão pouco tempo. Estou buscando forças para consertar tudo o qu está errado e que precisa ser sanado. São dificuldades que outros estados também passam e que não são exclusivos do Rio Grande do Norte. Essa dificuldade financeira que existe se deve às dificuldades impostas pelo Governo Federal. Estamos atrás de recursos na Secretaria de Planejamento e junto à governadora para sanar os problemas que existem, principalmente o pagamento de dívida com o município.

Sem médicos, atendimento para

Usuários do sistema básico de saúde de Natal amanheceram com a concretização da paralisação dos profissionais de saúde ligados à Cooperativa dos Médicos do RN (Coopmed). Vários hospitais maternidades e pronto-atendimentos da cidade estavam impedidos de atender à demanda de pacientes que buscavam auxílio da clínica médica, obstetrícia, ginecologia, pediatria e outros serviços das unidades municipais.

Na Maternidade e Pronto-atendimento Professor Leide Morais (Hospital da Mulher), a situação permanecia idêntica à relatada pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE na última terça-feira. Sem médicos municipais, que já haviam completado a carga horária prevista para o mês, e com a paralisação dos cooperados, toda a demanda de gestantes eram encaminhada para o Hospital Estadual José Pedro Bezerra, o Santa Catarina.

A Maternidade das Quintas, única instituição municipal em funcionamento, cuja escala de médicos municipais será cumprida até o próximo dia 19, cada vez mais gestantes buscavam o serviço de obstetrícia. O número normal de atendimentos é de 31 por dia, incluindo os internamentos. Apenas na manhã de ontem, 35 mulheres já haviam procurado o serviço. Segundo a diretora da unidade, Aloma Tereza Fonseca, a demanda de pacientes só tende a aumentar.

No Hospital dos Pescadores, em apenas 30 minutos de permanência da reportagem na sala de espera do ambulatório, 20 pessoas procuraram o serviço de clínica médica e o pronto-socorro da unidade, sem sucesso. "Eu já venho do pronto-atendimento de Cidade Satélite e de Cidade da Esperança procurar socorro para a minha mãe, de 62 anos, que está em casa aguardando até eu encontrar um lugar que atenda", disse o comerciante Jonielson Moura, de 38 anos. Morador no bairro do Planalto, após duas horas de busca, Jonielson chegou a uma conclusão: "Não vou arriscar a vida da minha mãe. Vou para o particular. Nessas horas não há dinheiro que importe; saúde é o que interessa".

SECRETÁRIA

A paralisação da Coopmed prossegue em virtude da falta de pagamentos por parte do Governo do Estado, que é responsável por 60% do valor, e da Prefeitura do Natal, responsável por 40%. Em entrevista com a secretária municipal de Saúde (SMS), Maria do Perpétuo Socorro, na manhã de ontem, a titular da pasta detalhou os problemas pelos quais a gestão municipal tem enfrentado para manter o pagamento de pessoal e insumos para a rede municipal.

"Vários serviços ficam comprometidos com a paralisação da Cooperativa dos Médicos. Não temos um número de médicos municipais suficiente para suprir a escala de cada uma das unidades hospitalares. Logo, quando a carga horária é atingida, os setores simplesmente deixam de funcionar. Não há como puxar a escala do mês seguinte. Sem contar que a maioria das unidades conta com o atendimento em quase 100% da Coopmed", explicou a titular da SMS.

Segundo exemplificou a secretária, o Pronto-Socorro Infantil Sandra Celeste atende a população com 50% dos médicos municipais. "Está funcionando, mas com dificuldades. Afinal, a rede municipal de Natal não atende apenas a capital, mas à região metropolitana e à diversos municípios", colocou. A prefeitura alegou já ter pago a dívida referente ao mês de maio na última terça-feira, no valor de R$1,6 milhão.

O valor total da dívida municipal à Coopmed é de R$6,2 milhões. A dívida municipal do mês de junho, de R$1,5 milhão será paga até o próximo dia 21. Já o valor do mês de julho, de R$1,6 milhão, será pago na primeira semana de outubro. "Pelo menos 80% da dívida será paga até o mês de outubro. É preciso que a Coopmed tenha bom senso e permaneça atendendo. O município não dispõe de recursos suficientes para  quitar toda a dívida de uma vez só", esclareceu Perpétuo Socorro.

Segundo ela, não há quebra de contrato com a Coopmed e por isso a paralisação dos serviços não seria justa. A secretária informou também que existe uma parcela elevada de atendimentos na rede municipal vinda de outros municípios, o que superlota ainda mais o sistema. A dívida se intensificou com o passar dos anos por conta do aumento de serviços prestados pelo município, o qual "não conseguiu dar conta". Em 2009, Natal pagava anualmente R$4 milhões às cooperativas. Em 2011, esse valor ultrapassa os R$14 milhões, "extrapolando o limite orçamentário municipal".

Em relação ao desabastecimento de insumos, Maria do Perpétuo Socorro culpa o atraso dos fornecedores devido à greve da Polícia Rodoviária federal, que prejudica a chegada dos medicamentos e materiais ambulatórios na secretaria. "Até o final desta semana, todo o estoque para manter a rede municipal até dezembro terá chegado e daremos continuidade à distribuição", finalizou.

Coopmed analisa hoje a proposta 

Em conversa com Cleide Fernandes, gerente administrativa da Coopmed, a proposta do município é inviável para a categoria e a paralisação será mantida. Uma assembleia está prevista para ocorrer às 19h de hoje onde os médicos definirão se a paralisação permanece ou se é revogada. "Acho difícil os cooperados se inclinarem a favor e haver coro para aceitar essa proposta do município", informou ontem, por telefone, à TRIBUNA DO NORTE.

Segundo ela, a proposta da Coopmed seria de que o município pagasse os valores referentes a maio e junho agora e o mês de julho no dia 21 de agosto, e que já houvesse uma definição com relação ao mês de agosto, que seria previsto a ser pago no dia 10 de outubro.

ESTADO

Em contato com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap),  a reportagem da TRIBUNA DO NORTE ouviu  o setor jurídico e financeiro do órgão e apurou que o Estado deve apenas o mês de agosto, o qual repassará o valor de cerca de R$2 milhões ao município após o dia 10 de setembro, ainda dentro do prazo previsto. Os valores de junho e julho, que também correspondem a aproximadamente R$2 milhões cada mês, já foram repassados à Secretaria Municipal de Saúde, segundo a Sesap.

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