segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Por uma vida menos salgada


Isaac Ribeiro - Repórter

O Governo Federal está preocupado com a quantidade de sal que estamos ingerindo diariamente e com as doenças causadas pelo sódio presente em sua composição. No último dia 28 de agosto, o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) fecharam a terceira etapa de um acordo para a redução dos teores de sódio nos alimentos industrializados. Dessa vez, o termo de compromisso entre as partes  prevê a diminuição em temperos, caldos, cereais matinais e margarinas vegetais. 

A previsão com essa ação é retirar 8,8 toneladas de sódio do mercado brasileiro até 2020. E, somadas às  outras etapas, espera-se 20 mil toneladas fora das prateleiras até 2020. O acordo integra o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis, lançado em agosto de 2011.  
Alex RégisA OMS recomenda o consumo diário máximo de cinco gramas de sal, para os adultos, o equivalente a dois gramas de sódioA OMS recomenda o consumo diário máximo de cinco gramas de sal, para os adultos, o equivalente a dois gramas de sódio

Nas etapas anteriores, foram acertadas reduções de sódio em macarrões instantâneos, pão em bisnaga e de forma, mistura para bolos, salgadinhos de milho, batata frita e palha, biscoitos e maionese.  

O alto consumo de sódio é responsável pela retenção de líquido no organismo e danos em vasos e artérias, causando entre outros problemas, a hipertensão, principalmente. Por sua vez, ela desencadeia outras doenças crônicas: 40% dos infartos do miocárdio, 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC ou derrame) e 25% dos casos de insuficiência renal terminal - dados do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a hipertensão atinge cerca de 30% da população, passando dos 50% na terceira idade e chegando aos 5% em crianças e adolescentes. "O principal problema com relação ao sódio é a questão da pressão alta. Muitas pessoas têm o problema e se descuidam, não fazem checape. Nossa consciência é curativa e não preventiva", comenta a nutricionista Jocélia Guedes.

A Organização Mundial de Saúde recomenda o consumo diário máximo para os adultos de cinco gramas de sal, o equivalente a dois gramas de sódio. Mas o brasileiro ingere cerca de 12 g de sal por dia. Especialistas acreditam que isso deve-se ao fato de a população não associar sódio a sal, nem muito menos ter o hábito de ler os rótulos dos alimentos industrializados.

Como dica para diminuir a quantidade de sódio nas refeições, Jocélia Guedes indica evitar ao máximo os alimentos industrializados; por exemplo, substituir o tempero pronto por coentro, tomate, pimentão e outros vegetais colhidos na horta, além de abolir definitivamente o saleiro da mesa - pior ainda é o chamado sal de adição. 

"É tudo uma questão de hábito. No início,  a mudança pode não ser muito agradável,mas com o tempo a pessoa acostuma", avalia a nutricionista.

Segundo a também nutricionista Letícia Castelo Branco, cerca de 75% do sal que consumimos diariamente é  adicionado durante o preparo das refeições, e o restante está naturalmente presente nos alimentos. Ela comenta ainda que, na faixa etária entre 25 e 55 anos de idade, reduzir apenas 1,3 gramas na quantidade diária de sódio a ser consumida já significa reduzir a pressão arterial em 20% de sua prevalência, ou seja 5 mmHg (milímetro de mercúrio). 

É hora de deixar o sal de lado e viver mais... e melhor!


Substituições ajudam a reduzir sal na dieta diária

A maioria das pessoas é bastante acomodada e se mostra avessa a uma mínima indicação de mudanças nos hábitos de vida; mesmo que seja por recomendação médica. Uma simples troca pode fazer grande diferença na dieta. Diminuir o sal consumido é fundamental para se ter uma vida melhor Algumas substituições podem fazer com que a pessoa não deixe de degustar seus pratos preferidos, mas de forma saudável, sem excessos de sal. 

Por exemplo, se você é fã de sanduíches tipo fast-food, não é preciso tirar o hambúrguer definitivamente do lanche; basta substituí-lo por um similar feito de soja. O tradicional bovino possui 395 mg de sódio, o equivalente a 16% do valor diário total a ser consumido. O substituto  tem 128 mg de sódio; ou seja, 5%.

Apostar em temperos naturais, comprados frescos ou colhidos na própria horta é, com certeza,  melhor opção do que os temperos prontos, pois além de mais baratos são, obviamente mais saudáveis. Apesar de serem extremamente práticos, a quantidade de sódio presente nos "prontos" é absurda: em um cubinho de caldo de carne, por exemplo, pode haver mais de dois mil mg do mineral; 87% da ingestão diária recomendada.   

Mas como ter uma alimentação mais saudável quando até mesmo na salada existe sódio? Para a nutricionista Letícia Castelo Branco, é preferível pedir para levarem o prato à mesa sem sal e até mesmo usar limão como substituto. 

"Opte por alimentos mais naturais, sem adição de conservas, pois possuem muito sódio, já que o sal é conservante. Em casa, a utilização de caldos e temperos completos em tablete ou líquidos também deve ser evitada, pois estes temperos são muito ricos em sódio. O ideal é utilizar especiarias e ervas para dar mais sabor aos alimentos", indica Letícia Castelo Branco. 

Linguiça, salsicha, mortadela, todos eles possuem altos teores de sódio, usado para a conservação de produtos industrializados. Uma linguiça possui 618 mg do nutriente. Então, é melhor deixá-la apenas para o churrasco do final de semana, caso você não abra mão dela. Durante a semana, opte por um peito de frango, pois o seu filé tem 145 g de sódio.

O sódio no sal

O sódio pode ser sinônimo de sal, mas o inverso não é de todo verdade. Isso por que, além desse nutriente, o sal possui outros elementos em sua composição, como iodo e potássio. Cada grama de sal possui 400 mg de sódio. A nutricionista Letícia Castelo Branco comenta que o organismo segue o seguinte mecanismo: a água vai para onde o sódio for. Quando os rins o retém, consequentemente reterá água. "Quando a ingestão de sódio diminui, ou quando o paciente perde líquidos, o organismo procura reter sódio por ação de um hormônio chamado aldosterona nos túbulos renais, onde se promove a reabsorção do sódio. Todavia, é fundamental observar que o seu consumo excessivo gera transtornos relacionados a alterações de pressão arterial, problemas renais e retenção hídrica."  

Mas não existem apenas malefícios. Entre as propriedades benéficas do sódio está a regulação do volume de líquidos, o que mantém a pressão osmótica  equilibrada, dentro e fora das células. O sódio também é importante para a transmissão de impulsos nervosos. 

Registros históricos relacionam o uso do sal na culinária com o objetivo de esterilizar e conservar a comida, fazendo com que as bactérias não se reproduzam e o alimento dure mais. 

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